Fundamentação teórica

A violência faz parte do campo da saúde? Como sua força de produzir patologia pode ser prevenida ou tratada? A experiência da violência, além de grande impacto social, tem trazido enorme preocupação na área da saúde. Desde a década de 1980, com a introdução do diagnóstico de TEPT no campo psiquiátrico, a violência extrapolou o campo das ciências humanas e se transformou em uma matéria também da saúde.

E como isso pode refletir em nossa prática de saúde?

Em geral, as mortes decorrentes de violência (incluindo acidentes) são a segunda causa de mortes, sendo que as principais vítimas são homens jovens entre 15 e 24 anos, pobres e negros. O Brasil tem cerca de 30 mortes por homicídio a cada 100 mil habitantes. Somente na cidade de São Paulo, a “epidemia de homicídios”, entre 1960 e 2000, cresceu 900%! Entretanto, nos últimos dez anos, os homicídios caíram 78%, com mudança significativa do padrão dos assassinatos. Nesta última década, as vítimas mulheres passaram de 7% para 16% do total. As armas de fogo usadas em mortes caíram vertiginosamente e as brancas, passaram de 4% para 27%. Nota de interesse relevante para PSF: as mortes dentro das casas passaram de 10% para 20%, especialmente pelo aumento de conflitos nos próprios domicílios, geralmente impulsionados pelo consumo de tóxicos (álcool e outras drogas).

Portanto, o tema violência faz parte da preocupação da atenção primária (como os da Estratégia Saúde da Família) como elemento epidemiológico, preventivo e da prática clínica. Entretanto, especificamente no campo da saúde, qual é o poder da violência em trazer dano?