Tema 1: Conversando sobre o Ciclo de Vida e o trabalho em saúde no contexto intercultural

Prezado Estudante!

Seja bem-vindo à unidade de intervenções clínicas em saúde indígena. Para começar, convidamos você a assistir aos vídeos (Parte I e Parte II) sobre o ciclo de vida em saúde indígena e o trabalho em contextos interculturais.

 

 

 

 

 

 

Agora que você assistiu ao vídeo, clique no botão a seguir para realizar a atividade.

 


 

Tema 2 - Modelo assistencial de saúde no contexto intercultural: uma convergência de olhares

Autores: Marcos Schaper, Douglas Rodrigues, Raquel Pacagnela e Lavínia Oliveira

 

 

 

 

 

Introdução

 

Somos madeira que apanhou chuva. Agora não acendemos nem damos sombra. Temos que secar à luz de um sol que ainda há. E esse sol só pode nascer dentro de nós.

O último voo do flamingo - Mia Couto

 

Prezado Estudante!

Como vimos anteriormente, a Atenção Básica à Saúde (ABS) no Brasil é norteada pelos princípios do SUS de acesso universal, equidade, integralidade e participação social. Configura-se assim como um dispositivo estratégico da atenção integral à saúde, que deve necessariamente estar articulado ao sistema nacional de saúde. Agora vamos conhecer como a ABS é praticada em diferentes contextos, sendo múltiplos os fazeres que constituem os diversos modelos assistenciais em saúde.

Vamos Lá!

 

O que são Modelos Assistenciais em Saúde?

O modelo assistencial diz respeito ao modo como são organizados e combinados os saberes e instrumentos utilizados nas práticas ou processos de trabalho em saúde, capazes de intervir nos problemas de saúde individuais e coletivos. Não constitui uma forma de organizar serviços de saúde e nem uma maneira de administrar o sistema ou os serviços de saúde (PAIM, 2002, 2003). São relações entre as pessoas, seus saberes e fazeres, e as tecnologias envolvidas no trabalho. Um modelo assistencial não pode ser confundido com um padrão, trata-se de uma escolha, que é construída em um determinado espaço de trabalho a partir de uma referência teórica e prática.

A opção por determinado modelo de atenção deve partir da identificação e análise dos problemas de saúde da população bem como de seus determinantes, buscando garantir efetividade e equidade.

Isto exige de nós, profissionais que atuamos no contexto da saúde indígena, uma reformulação dos modelos assistenciais construídos a partir da atenção focada na doença e no indivíduo doente, pois enquanto a biomedicina limita os conhecimentos sobre doença e cura aos processos biológicos, a medicina tradicional indígena tem outra compreensão.

o significado da doença (nas sociedades indígenas) é construído através da lógica etiológica, e esta estende a procura das causas para além do corpo físico, deslocando o significado da doença do plano biológico para os contextos cosmológicos, sociais e morais. (LANGDON, 2005).

Podemos citar os programas de saúde, tais como os preconizados pelo Ministério e Secretarias de Saúde, como ferramentas de intervenção embutidas nos modelos assistenciais vigentes a serem aplicadas de forma vertical e uniformizante nos DSEIs de todo o país, em diferentes contextos interculturais?

 

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Para conhecer alguns programas e ações de saúde do ministério de saúde acesse

Reflita sobre o quanto os programas de saúde existentes conseguem enfrentar os problemas de saúde identificados na sua realidade de trabalho. Pense se a identificação dos problemas de saúde e seus determinantes, a partir do paradigma da biomedicina, é suficiente para o enfrentamento dos problemas específicos da população onde você trabalha.

Estas perguntas devem nos acompanhar quando pensamos um modelo de atenção/intervenção em saúde indígena. Em nossa experiência, trazer um programa de saúde elaborado verticalmente, sem a necessária sensibilidade cultural, sem o olhar da especificidade, é o caminho mais curto para uma ação de enfrentamento não ter sucesso.

 

 

 

Figura 1 - Encontro de mulheres: um espaço de diálogo intercultural na busca de entendimento e de estratégias de enfrentamento dos problemas de saúde dos xinguanos.

 

 

 

 

 

Os Modelos Assistenciais no Brasil

 

A história das políticas de saúde e dos modelos de atenção permite distinguir diversas formas de atuar da saúde pública. Dentre elas, destacam-se: as campanhas sanitárias da Primeira República; o modelo médico-assistencial privatista, com o desenvolvimento da medicina previdenciária nas décadas de 1950 e 1960; e os programas especiais, vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, que se instauram diante da crise sanitária dos anos 70 do século passado (PAIM, 2003).

Como vimos na disciplina de políticas e organização dos serviços de saúde indígena, o modelo hegemônico no Brasil sempre foi centrado na doença e nos estabelecimentos de saúde (hospitais, unidades de saúde, consultórios médicos e nos serviços de apoio diagnóstico) do modelo médico-assistencial privatista, que tem suas origens na assistência filantrópica e na medicina liberal. Valoriza a tecnologia e a assistência médica individual, ordenada pela "demanda espontânea" de cada cidadão, disputando espaços e recursos com ações de saúde coletiva com inspirações sanitaristas, como campanhas, programas de saúde e vigilância epidemiológica.

A prática clínica desse modelo é baseada no paradigma da Medicina Científica ou Biomedicina, voltado para assistência da doença em seus aspectos individuais e biológicos, centrado no profissional médico.

O conhecimento científico nasceu da prática e dela se distanciou, numa visão reducionista da saúde. Destacam-se os aspectos biológicos e as ações concentram-se no indivíduo, que é cada vez mais fragmentado frente a especialização extrema, perdendo o olhar sobre o todo (Mendonça, 2009)."

Você assistiu ao vídeo inicial sobre História das Políticas de Saúde no Brasil? Seria interessante assisti-lo novamente (ou pela primeira vez), pensando agora como as políticas de saúde, interesses econômicos e movimentos sociais determinam os modelos assistenciais.

A partir da crise do modelo médico-assistencial privatista (deflagrada por sua pouca efetividade, alto custo, iniquidade e pelo reconhecimento da saúde como um direito de cidadania e dever do Estado, que culminou com a criação do SUS em 1988), ficou evidente a necessidade de proposição e utilização de novos modelos assistenciais, alternativos ao modelo hegemônico, que incorporassem métodos, técnicas e instrumentos provindos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais.

No início da década de 90 iniciam-se propostas de reorientação do modelo assistencial na direção do atendimento universal, de forma integral e eficaz. Tem início um período em que a saúde passa a ser tratada, do ponto de vista da política oficial, não mais como resultado de uma intervenção especializada e isolada sobre fatores de risco biomédicos, mas como produto social, resultante de fatores econômicos, políticos, culturais e ideológicos. Propostas como o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa de Saúde da Família (PSF) são dessa fase. Alguns modelos alternativos avançaram nessa concepção. São exemplos a Vigilância da Saúde, Cidades Saudáveis, Programação em Saúde e a Defesa da Vida (COELHO, 2008).


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A equipe de referência é aquela que tem a responsabilidade pela condução de um caso individual, familiar ou comunitário. Objetiva ampliar as possibilidades de construção de vínculo entre profissionais e usuários. O termo responsabilidade de condução refere-se à tarefa de encarregar-se da atenção ao longo do tempo, ou seja, de maneira longitudinal, à semelhança do preconizado para equipes de saúde da família na atenção básica (CAMPOS; DOMITTIi, 2007) ou para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI).

 

O caso do DSEI-Xingu

 

O modelo de atenção à saúde que vem se consolidando no Parque Indígena do Xingu (PIX) é produto de uma longa caminhada e da participação de diferentes atores, que busca dar respostas aos principais agravos resultantes do processo histórico e social do contato entre índios e colonizadores, priorizando ações intersetoriais e o envolvimento crescente da população xinguana. É norteado para a construção de um novo diálogo intercultural que valoriza a cidadania, em contraste às relações historicamente marcadas pelo paternalismo e dependência. Utiliza tecnologias leves, como é denominada a relação que se estabelece entre um trabalhador de saúde e uma pessoa usuária do serviço, levando a uma abordagem assistencial. Quando falamos em tecnologias leves estamos falando do encontro de duas pessoas, e leveduras como protocolos assistenciais padronizados, programas de saúde voltados para as doenças prevalentes ou para grupos de risco, a vigilância da saúde e o apoio matricial à equipe local.

Frente a eventuais conflitos entre os enfoques clínicos e causais da biomedicina e a medicina tradicional, a postura dos profissionais é sempre a da negociação e nunca uma postura de imposição da visão biomédica sobre o entendimento tradicional do processo de adoecimento e cura.


A Vigilância da Saúde, todavia, propõe a incorporação de novos sujeitos, extrapolando o conjunto de profissionais e trabalhadores de saúde ao envolver a população organizada, o que corresponde à ampliação do objeto, que abarca, além das determinações clínico-epidemiológicas no âmbito individual e coletivo, as determinações sociais que afetam os distintos grupos populacionais em função de suas condições de vida. Nessa perspectiva, a intervenção também extrapola o uso dos conhecimentos e tecnologias médico-sanitárias e inclui tecnologias de comunicação social que estimulam a mobilização, organização e atuação dos diversos grupos na promoção e na defesa das condições de vida e saúde.

A proposta de Vigilância da Saúde transcende os espaços institucionalizados do sistema de serviços de saúde e se expande a outros setores e órgãos de ação governamental e não governamental, envolvendo uma trama complexa de entidades representativas dos interesses de diversos grupos sociais.

Em síntese, a Vigilância da Saúde apresenta sete características básicas:

a) Intervenção sobre problemas de saúde (danos, riscos e/ou determinantes);
b) Ênfase em problemas que requerem atenção e acompanhamento contínuos;
c) Operacionalização do conceito de risco;
d) Articulação entre ações promocionais, preventivas e curativas;
e) Atuação intersetorial;
f) Ações sobre o território;
g) Intervenção sob a forma de operações.

(TEIXEIRA; PAIM; VILASBÔAS, 1998)

 

Reflita se o que é considerado problema de saúde para nós também é visto como problema de saúde para os índios. Após sua reflexão, pense em como poderia ser feito o levantamento e a priorização de problemas.

Em nossa experiência, tal levantamento é realizado junto com as comunidades e as ações de prevenção e intervenção sobre esses problemas são organizadas de acordo com a complexidade de cada caso e a realidade local. São formuladas de maneira coletiva, buscando o envolvimento de vários segmentos sociais – mulheres, agentes indígenas de saúde, auxiliares de enfermagem indígenas, lideranças, professores, profissionais da medicina tradicional e conselheiros. Prevalecem sistemas distintos de etiologia, prevenção e cura de doenças, existindo uma grande preocupação tanto dos índios quanto da equipe de saúde em manter o diálogo intercultural como forma de melhor compreender as necessidades de saúde dos xinguanos.

Não há fórmula pronta. O que funciona bem no Xingu pode não ser o mais adequado para outras configurações de território e de diferentes relações de contato com a nossa sociedade. O importante é ousar, enfrentar as limitações das propostas verticais e uniformizantes, reconhecer as limitações do modelo biomédico e da centralização das práticas nos médicos e nos estabelecimentos de saúde. Juntamente com os usuários indígenas, é possível construir, processualmente, o modelo de atenção mais adequado a cada situação, num esforço sistemático para reformular a prática atual, ainda fortemente impregnada pelo modelo biomédico dominante. Alguns caminhos aqui apontados, como o trabalho em equipe, a interdisciplinaridade, a coordenação do cuidado, o acolhimento, integralidade, a atenção centrada na pessoa, a clínica ampliada e o apoio matricial são fundamentais nessa tarefa.

Segundo Merhy (2004), quanto maior a composição das caixas de ferramentas (entendida como o conjunto de saberes que se dispõe para a ação de produção dos atos de saúde) utilizadas para a conformação do cuidado pelos trabalhadores de saúde, individualmente ou em equipes, maior será a possibilidade de se compreender o problema de saúde enfrentado e maior a capacidade de enfrentá-lo de modo adequado, tanto para o usuário do serviço quanto para a própria composição dos processos de trabalho. O cuidado produzido terá como resultado uma maior defesa da vida do usuário, maior controle dos seus riscos de adoecer ou agravar seu problema e desenvolvimento de ações que permitam a produção de um maior grau de autonomia da relação do usuário no seu modo de estar no mundo.

Na construção do modelo de atenção devemos nos preocupar fundamentalmente com a lógica da produção social da saúde, que deve ser centrada no enfoque ao sujeito social, nas famílias e comunidades, visando enfrentar de forma mais efetiva a complexidade do trabalho na saúde indígena, caracterizada pela heterogeneidade cultural e pelas diferentes relações de contato dos povos indígenas com a sociedade não indígena. Somam-se a isso as dificuldades logísticas, a dispersão territorial da população e a alta rotatividade das equipes de saúde. Não existe doença, mas sim adoecimento. A atenção deve ser centrada nas pessoas e nas comunidades.

Conflitos entre as visões do processo de adoecimento e cura existentes entre equipes e comunidades e as dificuldades para o trabalho interdisciplinar, entre outras, demandam um desenho no qual o trabalho dos diferentes profissionais da equipe multidisciplinar de saúde se misturam e são reconstruídos. Enfim, pode-se pensar em construir um modelo pautado na incorporação de preceitos e ferramentas de vários outros existentes, pois há mais convergências do que divergências nesse campo.

Dentro de uma mesma lógica de organização dos serviços de saúde podem ser desenvolvidas diferentes formas, com diferentes lógicas de prestação de serviços de saúde.

A construção do modelo de atenção diferenciada à saúde indígena pode beber da lógica da vigilância à saúde, das ações programáticas e de movimentos como a humanização e as redes de cuidado, tendo como argamassa a produção do cuidado e um grande compromisso com a defesa da vida dos indígenas.

 

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Sujeito social é um ser em constante interação com os outros homens e com seu meio, transformando-o e sendo transformado por ele, isto é, um protagonista da ação de saúde que se constrói. Este homem é, ao mesmo tempo, sujeito, ator social, protagonista e objeto da ação, aquele que se submeterá às intervenções. (MATUMOTO; MISHIMA; PINTO, 2010)

Agora que você já percorreu a trilha de aprendizagem pensada para essa unidade, convidamos você a responder a um questionário de múltipla escolha para sedimentar o conhecimento construído nesse percurso.

 

 

 

Referências

 

CAMPOS, G. W. S; DOMITTI, A. C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 23(2), p. 399-407, 2007.

COELHO, I. B. Formas de Pensar e Organizar o Sistema de Saúde: Os modelos assistenciais em saúde. In: CAMPOS, G. W. S.; GUERRERO, A. V. P. (Orgs.). Manual de práticas de atenção básica: saúde ampliada e compartilhada. São Paulo: Hucitec, 2008. p. 96-131.

LANGDON, E. J. Uma avaliação crítica da atenção diferenciada e a colaboração entre a antropologia e profissionais de saúde. In: LANGDON, E. J.; GARNELO, L. (Orgs.). Saúde dos povos indígenas: reflexões sobre antropologia participativa. Rio de Janeiro, Editora Contra Capa Livraria; Associação Brasileira de Antropologia, 2004. p. 33-51.

____________. Construção sociocultural da doença e seu desafio para a prática médica. In: BARUZZI, R. G.; JUNQUEIRA, C. (Orgs.). Parque Indígena do Xingu: Saúde, Cultura e História. São Paulo: Terra Virgem, 2005. p.115-33.

MENDES, E. V. A evolução histórica da prática médica: suas implicações no ensino, na pesquisa e na tecnologia médicas. Belo Horizonte: PUC-MG; Finep, 1984.

MENDONÇA, S. B. M. Reflexões sobre a relação intercultural no campo da saúde indígena: uma introdução.Curso de Especialização em Saúde Indígena na Modalidade de a Distância. UNIFESP, MEC, 2009.

MERHY, E. E. O ato de cuidar: a alma dos serviços de saúde. In: Ver-SUS: cadernos de textos. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. p. 73-92.

OLIVEIRA, L. S. S. Formação e inserção institucional de agentes indígenas de saúde no sistema único de saúde: um estudo de possibilidades. Tese de Doutorado, Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo, 2002.

PAIM, J. S. Saúde: política e reforma sanitária. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva, 2002.

____________Vigilância à Saúde: tendência de reorientação de modelos assistenciais para a promoção da saúde. In: CZERESNIA, D. (Org.) Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p.161-74.

SILVA JR., A. G. S. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o debate no campo da saúde coletiva. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

SILVA JR., A. G.; ALVES, C. A. Modelos Assistenciais em Saúde: desafios e Perspectivas. In: MOROSINI, V. G. C.; CORBO, A. D. A. (Orgs.). Modelos de atenção e Saúde da Família. Rio de Janeiro: EPSJV; Fiocruz, 2007. (Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde).

TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S.; VILASBÔAS, A. L. SUS, modelos assistenciais e vigilância da saúde. IESUS. v. VII(2), abr-jun. 1998.

 

 

 

 

 

Tema 3 - Atenção Básica na Saúde Indígena: Mudando para Reconstruir

Autores: Marcos Schaper, Douglas Rodrigues, Raquel Pacagnela, Renata Fregonezi e Lavínia Oliveira

 

 

 

 

 

Introdução

 

O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra, montão.
Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa

 

Prezado Estudante,

Ao longo desse texto você verá as características da Atenção Primária em Saúde que devem ser valorizadas na prática da Atenção Básica da Saúde Indígena.

A palavra-chave que traduz o foco desse material é Reconstrução.

Por isso, vamos refletir sobre a reconstrução do processo de trabalho da atenção básica, das práticas e, principalmente, das relações entre as pessoas, pois é comum que os discursos dos profissionais de saúde apontem as dificuldades e a impossibilidade de mudanças. Propomos aqui um protagonismo destes profissionais na construção de um modelo de atenção aos povos indígenas que tenha, como ponto de partida, um profundo compromisso com a defesa da vida dos sujeitos que cuidamos.

Vamos começar?

 

A ideia inicial é ampliarmos a nossa visão sobre os determinantes dos problemas de saúde e discutirmos uma prática clínica ampliada (Campos et al., 2008) e possibilidades de sua implementação no dia a dia dos serviços de saúde indígena.

Segundo Merhy (2003), um dos principais empecilhos para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido o nosso não posicionamento, enquanto trabalhadores de saúde, como sujeitos políticos da construção deste Sistema como política pública de saúde. O nosso espaço de mudança é o do processo de trabalho. É fundamental que nos transformemos em agentes e sujeitos deste processo tendo como principal ferramenta o compromisso com a defesa da vida do usuário.

 

Figura 2 - Os serviços de saúde na Atenção Básica à Saúde estão próximos aos locais onde as pessoas vivem; acontecem os determinantes das condições de saúde e do processo de saúde doença; e se expressam a singularidade dos sujeitos.

Foto: Marcos Schaper

 

 

 

Não há soluções universais ou gerais, mas sim desenhos específicos para cada problema ou grupo de problemas, pois as realidades locais, a importância que cada sociedade dá aos agravos, não é necessariamente equivalente. A percepção que nós, técnicos, temos de determinado problema é a mesma da comunidade indígena com a qual trabalhamos?

A busca da efetividade exige a diversificação de estratégias e ações, assim como diferentes combinações de saberes, tecnologias e padrões de organização de serviço. Diante da necessidade da construção de novas práticas em saúde, o espaço da Atenção Primária à Saúde (APS) tem se constituído em um local privilegiado para a construção de estratégias de enfrentamento dos velhos e novos problemas de saúde da população e criação de novos modos de produção de saúde (MASSUDA, 2008). É neste contexto que propomos a discussão da especificidade da saúde indígena dentro do SUS.

 

 

A Atenção Básica à Saúde e o contexto intercultural da saúde indígena

 

O subsistema de saúde indígena, que integra o SUS, é constituído por uma rede de serviços de saúde que tem como missão a prestação de cuidados de atenção básica (atenção primária) em saúde. A seguir, faremos algumas reflexões acerca da APS, denominada, no arcabouço constitutivo do SUS, como Atenção Básica à Saúde (ABS).

 

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No Brasil, o termo atenção básica à saúde passou a ser adotado pelo Ministério da Saúde, configurando uma versão da atenção primária à saúde não seletiva, mas sim universal, integrada ao sistema nacional de saúde, como sua principal porta de entrada.

 

A concepção de APS surgiu no Reino Unido, em 1920, no Relatório Dawson (Lord Dawson of Penn, 1920), que preconizou a organização do sistema de serviços de saúde em três níveis: os centros primários de atenção à saúde, os centros secundários de atenção à saúde e os hospitais de ensino (MENDES, 2002).

A catalogação da APS como doutrina universal ganhou força na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em Alma-Ata, Cazaquistão, em 1978. Essa conferência definiu como elementos essenciais da atenção primária à saúde a educação sanitária, o saneamento básico, a atenção materno-infantil (incluindo imunização e planejamento familiar), a prevenção de endemias, o tratamento apropriado das doenças e danos mais comuns, a provisão de medicamentos essenciais, a promoção de alimentação saudável e a valorização da medicina tradicional (STARFIELD, 2002).

A definição de APS formulada pela Organização Mundial da Saúde é uma das mais abrangentes: "A atenção essencial à saúde, baseada em métodos práticos, cientificamente evidentes e socialmente aceitos e em tecnologias tornadas acessíveis a indivíduos e famílias na comunidade por meios aceitáveis e a um custo que as comunidades e os países possam suportar, independentemente de seu estágio de desenvolvimento, num espírito de autoconfiança e autodeterminação. Ela forma parte integral do sistema de serviços de saúde do qual representa sua função central e o principal foco de desenvolvimento econômico e social da comunidade. Constitui o primeiro contato de indivíduos, famílias e comunidades com o sistema nacional de saúde, trazendo os serviços de saúde o mais próximo possível aos lugares de vida e trabalho das pessoas e constitui o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção [grifo nosso]" (WHO, 1978).

Para atingir seus objetivos, a ABS deve enfocar a saúde das pessoas na constelação dos outros determinantes de saúde, ou seja, no meio físico e social no qual as pessoas vivem e trabalham, em vez de enfocar apenas sua enfermidade individual. Igualmente, deve resolver 80% dos problemas de saúde da população (WHO, 1978). Espera-se que, desta porcentagem, apenas 3% a 5% dos problemas de saúde necessitem de encaminhamento para serviços de maior complexidade, o que pressupõe uma alta resolutividade dos serviços de atenção básica.

Como podemos ver, a prática responsável da ABS é de grande complexidade, ao contrário de denotações quanto ao sentido do termo básico (primário), entendido muitas vezes como mínimo ou primitivo. Na situação extrema em que a interculturalidade presente no trabalho da saúde indígena nos coloca, a ABS é um imenso desafio a ser vencido por nós, profissionais de saúde, pelos gestores do SUS e pelos povos indígenas.

Dentre as características da ABS sistematizadas por Starfield (2002), gostaríamos de destacar e valorizar, para a prática da atenção à saúde no contexto intercultural:

. Acessibilidade: garantir acesso fácil aos serviços de saúde, que elimine qualquer barreira geográfica, administrativa, cultural ou de linguagem. É fundamental desconstruirmos a nossa formação baseada na visão da medicina científica e alargarmos o nosso olhar, ampliando o nosso referencial sociocultural do processo saúde doença trazendo-o para a nossa prática diária com as sociedades indígenas. Desenvolver a escuta é fundamental. Como dizem os xinguanos: "ter orelhas grandes".

. Coordenação do cuidado: capacidade de responsabilizar-se pelo sujeito, mesmo quando este se encontra sob o cuidado de um serviço especializado, na rede de referência. Devemos fazer isto coordenando os projetos terapêuticos e compartilhando a responsabilidade com o serviço de referência. Um exemplo é o que temos feito no Ambulatório do Índio, do Hospital São Paulo/UNIFESP, dando uma identidade, um nome para o profissional que atende o paciente referenciado para o nosso serviço, através da identificação, telefone e e-mail do mesmo na contrarreferência, objetivando facilitar o contato do profissional da ponta com o principal cuidador do ambulatório. Para minimizar os efeitos danosos da dificuldade de comunicação causados pela distância, além da contrarreferência formal, entramos em contato com a equipe de saúde local, por telefone ou e-mail, de modo a compartilhar o cuidado e a responsabilidade pelo nosso paciente.

. Integralidade: capacidade da equipe de atenção básica em lidar com os problemas emergentes e as necessidades da população adscrita, responsabilizando-se por todos, independentemente de sua complexidade. Quando acaba a nossa responsabilidade com o problema de saúde do sujeito que estamos cuidando? Quando "encaminhamos" alguém para outro serviço? Esta pergunta deve nortear o cuidar do nosso paciente, e acreditamos que esta nossa responsabilidade só acaba quando o problema está resolvido e a pessoa está de volta e bem, dentro da concepção que ele, indivíduo, e a sua comunidade consideram ¨estar bem¨.

A prática da integralidade no espaço intercultural faz ainda com que seja necessária a relativização dos saberes da biomedicina, sem desprezá-los. Em geral, o que ocorre é a busca dos serviços de saúde para aliviar e tratar os sintomas e ao mesmo tempo a procura de um especialista tradicional, para explicação das causas e cura definitiva. As abordagens não são excludentes: elas devem ser complementares.

A continuidade implica na existência do aporte regular de cuidados pela equipe de saúde e seu uso consistente ao longo do tempo. Isto é conseguido pela adscrição da clientela às equipes de saúde. A essência da continuidade do cuidado é o vínculo que deve ser estabelecido ao longo do tempo entre a equipe de saúde, paciente, família e comunidade, independentemente da presença de um problema de saúde.


Reflita sobre o processo de trabalho em seu DSEI, tentando identificar a aplicação dos conceitos acima na sua prática cotidiana.


A produção de saúde, entre outros conceitos, é aquilo que modifica necessariamente a forma como trabalhamos na saúde. É uma das linhas que nos permite ampliar e modificar o trabalho na saúde na medida em que não se trata apenas de tratamento, reabilitação e prevenção, mas de produção de possibilidades de vida. (...) Essa produção de possibilidades de vida é o nó na rede de saúde. Nó porque é justamente no âmbito da produção em saúde que o trabalho em saúde se encontra com aquilo que difere. Ou seja, é na produção de saúde que, como trabalhadores, nos deparamos com a diferença. Diferença de histórias de vida, diferença de possibilidades de vida. E a condição para pensar a diferença está na dimensão imaterial do trabalho em saúde. É essa dimensão que justifica a existência do SUS e que nos possibilita pensar no conceito que envolve o trabalho na saúde: potência de vida. A potência de vida é um termo forjado pela filosofia, mas fundamental para pensar o trabalho na saúde a partir dos conceitos de trabalho afetivo, integralidade e produção de saúde. Potência de vida refere-se à ideia de que a vida é um permanente reinventar-se. Ou seja, existe algo em nós capaz de sempre criar novas formas de se agregar, de criar sentidos, de inventar dispositivos de valorização e autovalorização. Nas discussões de Arendt (1989), "a tarefa e a grandeza potencial dos mortais têm a ver com sua capacidade de produzir coisas – obras e feitos e palavras"; nisso reside a ideia de que os humanos não nascem para morrer, mas para recomeçar" (BERNARDES; PELLICCIOLI; GUARESCHI, 2010).



 

A proposta da clínica ampliada na atenção básica para populações indígenas: atendimento integral ao indivíduo e à comunidade

 

A Clínica Ampliada propõe uma mudança nas práticas de saúde. Sabemos que a excessiva ênfase no componente orgânico do processo saúde doença faz com que, frequentemente, o profissional imagine que o seu objeto de trabalho seja a doença, e não as pessoas doentes. Os serviços públicos de saúde têm grande dificuldade em lidar com a complexidade dos sujeitos individuais e coletivos, com a falta de aderência aos tratamentos, com pacientes poliqueixosos que não se encaixam nos diagnósticos (e que muitas vezes tornam-se dependentes dos serviços de saúde), pacientes com problemas sociais (normalmente encaminhados para que o serviço social resolva), e pacientes culturalmente diferenciados, como os indígenas (CARVALHO; CUNHA, 2007).

 

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A Clínica Ampliada é um trabalho clínico que visa o sujeito e a doença, a família e seu contexto, tendo como objetivo produzir saúde e aumentar sua autonomia, de sua família e de sua comunidade. Utiliza como meios de trabalho: a integração da equipe multiprofissional; a adscrição da clientela e a construção de vínculo; a elaboração de projeto terapêutico, conforme a vulnerabilidade de cada caso; e a ampliação dos recursos de intervenção sobre o processo saúde doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Hoepfner (2010) destaca que:

"a proposta da Clínica Ampliada surge na contramão das práticas tradicionalmente desenvolvidas de redução dos sujeitos, com recortes diagnósticos ou burocráticos. Vem com o propósito de ser um instrumento para que os trabalhadores e gestores de saúde possam enxergar e atuar na clínica para além dos pedaços fragmentados, ao mesmo tempo reconhecendo e utilizando seu potencial de saberes para relacionarem-se com os sujeitos enquanto protagonistas do seu próprio projeto terapêutico. Ela é um compromisso ético e radical com o sujeito doente, visto de modo singular em suas diferenças. A proposta então é a do trabalho em equipe para lidar com a complexidade dos sujeitos e a multiplicidade de fatores envolvidos no processo do adoecer."

 

Para se efetivar a mudança das práticas de saúde é necessário um movimento no sentido de entender as relações naturais e socioculturais ligados ao bem-estar das pessoas. Especificamente no campo da saúde indígena, um dos desafios é a convivência de sistemas médicos distintos: um que vê o adoecimento totalmente descolado do contexto cultural e outro que vê o oposto, o adoecer completamente inserido no contexto sociocultural. Como lidar com isto? O que nós, profissionais de saúde formados dentro de uma visão biomédica centrada na doença, devemos fazer?

 

Alguns Caminhos:

Desconstrução do saber e respeito à cultura e saberes tradicionais.

Em busca de uma clínica ampliada e focada no sujeito faz-se necessário romper com a prática de uma medicina reducionista e tecnicista que, além de fragmentar a pessoa e os saberes, é centralizada na remissão dos sintomas e concentra sua prática em hospitais e centros de diagnósticos. Devemos nos reconstruir na direção de uma clínica centrada na pessoa e não na doença, que agregue ações continuadas de promoção, prevenção, cura e reabilitação e que utilize o trabalho em equipe, orientado para a família e a comunidade.

A realidade das populações indígenas demanda que o profissional de saúde reconstrua a sua competência clínica [1] e agregue novos conhecimentos nas áreas da antropologia, da epidemiologia, da política e do trabalho em equipe. É fundamental a construção de serviços de saúde orientados para as especificidades culturais e que respeitem os saberes e práticas tradicionais dos grupos étnicos (LANGDON, 2004).

 

Responsabilidade Sanitária sobre a população, seu território e o exercício da corresponsabilidade.

A equipe deve conhecer os condicionantes e determinantes da condição de saúde das pessoas, famílias e comunidades da sua área de abrangência, determinando riscos e vulnerabilidades. Além da responsabilidade clínica, outros aspectos relevantes para a saúde, como o saneamento ambiental, segurança alimentar e acesso a medicamentos, devem fazer parte do escopo de responsabilidades das equipes de ABS. Para isso é fundamental a intersetorialidade e o exercício da corresponsabilidade, pois as comunidades devem, juntamente com a equipe, buscar condições para melhorar a qualidade de vida para todos. E fundamental a construção de vínculos entre profissionais de saúde e a comunidade, numa ligação longitudinal, continuada, entre equipe e usuários.

Acolhimento à demanda, mas, antes de tudo, às pessoas.

O acolhimento necessita de organização do serviço e grande disposição da equipe para ouvir as demandas, avaliar os riscos com o objetivo de resolver a maioria dos problemas trazidos pelo indivíduo ou coletividade. A adscrição da clientela, a visita domiciliar e a ¨cumplicidade¨ construída com a comunidade, fruto de uma relação de respeito, principalmente à especificidade cultural, conquista a confiança da comunidade, que, por sua vez, identifica a equipe como aliada e permite a construção de vínculo com as pessoas, famílias e comunidade, facilitando a identificação de riscos e vulnerabilidades.

A prática de atenção integral e continuada com sensibilidade intercultural.

A comunicação é o elemento central do encontro entre equipe e usuário. O método centrado na pessoa é uma forma de trabalho que permite o desenvolvimento de uma consulta com enfoque na compreensão do indivíduo como um todo, além de incorporar a promoção e prevenção da saúde. Mais importante que diagnosticar é entender o paciente e promover sua autonomia.

Podemos não chegar a um diagnóstico no primeiro encontro, mas ele pode ser construído em vários encontros, o que aproxima e estabelece vínculos e confiança entre profissional e usuário. A clínica deve ser ampliada partindo do saber biomédico para aspectos socioculturais e subjetivos de cada pessoa e do grupo social do qual ela faz parte, respeitando a singularidade de cada um, sem perder de vista o todo e os programas, protocolos e o jeito de fazer previamente definido por cada serviço. Langdon (2004) nos fala de serviços e programas com sensibilidade intercultural.

Uma abordagem ampliada focalizada na família e na comunidade exige um conhecimento amplo dos problemas de saúde e a interação da equipe com os núcleos familiares, observando as particularidades da organização das sociedades indígenas. Em uma busca ativa de doentes com tuberculose, por exemplo, além dos contatos domiciliares, por vezes é necessário examinar a avó, que mora do outro lado da aldeia, e que cuida da criança durante uma grande parte do dia, dinâmica de uma vida cotidiana que necessita de um aprofundamento do olhar de quem cuida.

Prática de um trabalho interdisciplinar.

A maioria dos profissionais de saúde, frutos de uma formação que valoriza exclusivamente o conhecimento científico, não considera os saberes e práticas da medicina tradicional e valoriza o trabalho individual em detrimento do coletivo. Mais uma vez é necessário rompermos com a formação baseada no modelo biomédico e médico-centrado para nos reconstruirmos enquanto profissionais comprometidos com uma nova prática ao cuidar do outro, desenvolvendo um trabalho interdisciplinar que facilite a abordagem integral dos problemas que causam impacto sobre a qualidade de vida das pessoas.

É necessário superar as dificuldades para o exercício do trabalho interdisciplinar de fato. O que vemos, na maioria das vezes, é um trabalho em que vários profissionais de áreas diferentes não interagem, não compartilham conhecimentos, experiências e o trabalho.


Reflita sobre como está organizado o trabalho da ABS no seu DSEI, em como é a relação da equipe em que você está inserido com as comunidades, e também com as equipes das referências do SUS.


 

Participação da população

 

Além do espaço formal do controle social, é importante a prática de reuniões na comunidade com os seus diferentes segmentos (professores, lideranças, trabalhadores indígenas de saúde, mulheres e profissionais da medicina tradicional), proporcionando a avaliação do processo de trabalho e busca de formas para torná-lo mais efetivo, rediscutindo rumos. Estas conversas propiciam o exercício da corresponsabilidade sobre o resultado do trabalho, o compartilhamento de saberes e acesso à informação.

Buscar a autonomia dos usuários.

A busca pela autonomia do paciente em relação às propostas terapêuticas é um dos fundamentos da prática clínica na atenção básica. No espaço da saúde indígena em diversos momentos nos deparamos com o outro em situações conflitantes, conflitos com normas da nossa prática clínica e nossos valores culturais. Estas situações necessitam de diálogo e negociação compreensiva para garantirmos a autonomia do nosso paciente. Para isto, relativizar os nossos conhecimentos científicos e trabalhar próximo dos profissionais da medicina tradicional são práticas fundamentais.

Buscarmos a autonomia dos povos indígenas, em uma concepção mais ampla, passa por acreditarmos no saber, na capacidade indígena na condução dos cuidados e na busca de soluções para os seus problemas. Estratégia fundamental é ter um olhar atento e desenvolver a formação dos profissionais da saúde indígena com sensibilidade para as diferenças culturais e sua implicação na execução do trabalho, acreditar no empoderamento dos profissionais indígenas e das comunidades, através da informação e educação em saúde, valorizando e respeitando as suas visões do processo saúde doença e práticas de cuidados.

 

Figura 3 - AIS da etnia Wajãpí em um momento de compartilhamento do conhecimento adquirido.

Fonte: Patrícia Rech

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É fundamental, portanto, não trazer soluções prontas, mas sim construir um caminho coletivo para a elaboração das estratégias de enfrentamento dos problemas, levando as nossas crenças e conhecimento, porém com o coração aberto, temperado com muito respeito aos acreditares do outro.

Agora que você já percorreu a trilha de aprendizagem pensada para essa unidade, convidamos você a responder a um questionário de múltipla escolha para sedimentar o conhecimento construído nesse percurso.

 

Referências

 

ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 1989.

BERNARDES, A.G.; PELLICCIOLI, E.C.; GUARESCHI, N. M. F. Trabalho e produção de saúde: práticas de liberdade e formas de governabilidade. Psicologia & Sociedade, [S.l.], n. 22(1), p. 5-13, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS.3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. (Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização.)

CAMPOS, G. W. S. et al. Reflexões sobre a atenção básica e a estratégia de saúde da família. In: CAMPOS, G. W. S.; GUERRERO, A. V. P. (Orgs.). Manual de práticas de Atenção Básica: saúde ampliada e compartilhada. São Paulo: Hucitec, 2008. p.132-153.

CARVALHO, S. R.; CUNHA, G. T. A gestão da atenção na saúde: elementos para se pensar a mudança da organização na saúde. In: Campos, G. W. S.; et al. (Orgs.). Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. p. 837-868.

CUNHA, G.T. A construção de uma clínica ampliada na atenção básica. São Paulo: Hucitec, 2005.

HOEPFNER, A. M. S. A clínica do sofrimento ético-político como uma proposta de intervenção na clínica ampliada e compartilhada. In: Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. p.75-91. (Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização).

LANGDON, E. J. Políticas Públicas de Saúde Indígena: implicações para minorias e saúde reprodutiva. In: MONTEIRO, S.; SANSONE, L. (Orgs.). Etnicidade na América Latina: um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004. p. 211-226.

MASSUDA, A. Prática de Saúde Coletiva na Atenção Primária em Saúde. In: Campos, G. W. S.; GUERRERO, A. V. P. (Orgs.). Manual de práticas de Atenção Básica: saúde ampliada e compartilhada. São Paulo: Hucitec, 2008. p. 179-205.

MEHRY, E. E. Perspectivas atuais do SUS e o agir tecnológico do trabalhador como um ato ético-político. Palestra proferida no auditório da FCM em 13/11/2003.

MENDES, E. V. A atenção primária à saúde no SUS. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará, 2002.

STARFIELD, D. B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: http://www.brasilia.unesco.org/publicacoes/livros/atencaoprimaria

TAVARES, M. A. Prática clínica da Atenção Primária à Saúde In: DUCAN, B. B. (Org.) Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 3. ed. Porto Alegre: Artemed, 2004.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Primary Health Care. Geneva: World Health Organization, 1978.

 

 

 

 

 

Tema 4: Entrevista Douglas Rodrigues e Sofia Mendonça

 

Dando continuidade à unidade, convidamos você a assistir ao vídeo sobre estratégias de intervenções clínicas em saúde indígena.

 

Agora que você assistiu ao vídeo, clique no botão a seguir para realizar a atividade.