Axiomas básicos da comunicação

O grupo Escola de Palo Alto, conjunto de pesquisadores que se reuniu no final da década de 1950 para estudar o fenômeno da comunicação humana, debruçou-se sobre essas indagações. Em 1971, depois de estudar os princípios elementares da Cibernética e da Teoria Geral dos Sistemas, o grupo (na época eram Watzlawick, Beavin e Jackson) realizou experimentos sistemáticos com pacientes esquizofrênicos, estabelecendo 5 axiomas básicos da comunicação. Resumidamente, são eles:

Não é possível não se comunicar. Estamos sempre interagindo uns com os outros. As diversas formas de agir, olhar, portar-se, falar, gesticular etc. sempre comunicam algo. Ainda que não considere a existência de outra pessoa no ambiente, estará comunicando algo: indiferença ou indisponibilidade, por exemplo.

Toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto relacional. É comum a percepção de sutilezas na forma como o outro nos passa alguma mensagem. Um exemplo corriqueiro é quando alguém diz sim, mas na verdade está querendo dizer não. O indivíduo tem inúmeras formas de mostrar que a negativa é mais verdadeira do que a mera palavra sim. Isso significa que a comunicação é muito mais do que seu mero conteúdo. O entendimento do contexto relacional é fundamental para uma melhor compreensão da comunicação. Sem a devida consideração do contexto relacional dos interlocutores, não é possível compreender a mensagem. A interpretação de ironias e cinismo, por exemplo, depende disso. São duas formas comuns e corriqueiras de comunicação que se manifestam justamente por meio de maneiras invertidas de explicitar conteúdos. Nessas formas de comunicação, o sim quer dizer não, o bonito quer dizer feio, e assim por diante. E essas colocações podem denotar inimizade entre os interlocutores, ou apenas uma piada, dependendo do contexto relacional.

Outra situação comum é quando ambos falam apenas aquilo que estão autorizados a falar um para o outro, mesmo que não estejam de acordo com o que está sendo dito.


Por exemplo, no ambiente de trabalho, é frequente a equipe concordar com ideias que racionalmente não são tão adequadas, sem questioná-las. Por questões hierárquicas, medo e/ou competitividade, as pessoas estabelecem falsos consensos. Um bom observador, no entanto, percebe que há sinais de objeção não verbais à ideia colocada – seja na forma exagerada e teatral com que as pessoas exibem concordância, seja pela reação de apatia, cabeça baixa, desvio de olhar, de atenção etc.

Um exemplo comum na clínica de Atenção Primária à Saúde é quando informamos e orientamos os pacientes para a mudança de hábitos. O paciente comumente é orientado a adequar seus hábitos de vida aos chamados hábitos saudáveis de promoção e prevenção à saúde. Praticar exercícios físicos e parar de fumar, de beber e de comer doces, frituras e sal etc. são algumas das orientações corriqueiras. É comum que ele concorde superficialmente com o plano. No entanto, já sai do posto de saúde certo de que não realizará o que foi proposto. O relacionamento entre paciente e profissional não foi suficiente para que ele colocasse verdadeiramente suas formas de entendimento, seus sentimentos, suas dúvidas etc. nem que refletisse sobre como adequar seu cotidiano aos novos padrões. A falha na comunicação faz com que se crie uma rotina na qual se ouve o que se tem de ouvir e se responde o que se tem de responder, num círculo vicioso que esvazia o sentido das consultas, baixa a resolutividade das ações de promoção e prevenção e, por fim, faz pacientes e profissionais se sentirem desmotivados.

A natureza da relação depende de sequências de comunicação prévias estabelecidas pelos comunicantes. As diversas formas de comunicação são apreendidas ao longo das histórias de vida de cada sujeito, influenciando em como cada um age em relação aos demais. As bagagens apreendidas por cada comunicador influenciam na forma como vão se comunicar um com o outro no momento presente, pois os predispõe a um conjunto maior de sinais e mensagens, que serão interpretados e compartilhados por ambos. Os aspectos relacionais entre os interlocutores, bem como o entendimento sobre o que é dito, são historicamente determinados por interações prévias entre ambos e por padrões culturais definidos.


Isso é conspícuo quando observamos pessoas que já se conhecem muito bem e que possuem história prévia de entendimento e boa comunicação. Um casal que vive junto há algum tempo, por exemplo, é capaz de reconhecer, mesmo de longe, quando o cônjuge está gostando de uma festa, ou quando está incomodado e querendo ir embora. Prescindindo de linguagem oral, são capazes de reconhecer os sinais no outro que expressam opiniões e posicionamentos.

Histórias prévias nas quais os membros possuem dificuldade de comunicação também refletem aspectos relacionais. Seja por apatia, desconfiança ou desinteresse, a qualidade da comunicação cai. Por exemplo, se a cada nova conversa acontecem novas formas de agressão e ofensivas, o círculo vicioso pode aumentar em espiral até migrar para agressões físicas, ou os membros podem vir a não mais acreditar na capacidade de resolução de seus conflitos por meio da comunicação, o que causará uma ruptura de vínculo ou uma minimização da importância das considerações do outro.

Os seres humanos se comunicam tanto digital como analogicamente. O termo "comunicação digital" é utilizado para designar a forma comunicativa dos conteúdos explícitos a partir da linguagem convencional pertencente à cultura vigente entre os comunicantes – podendo ser verbal ou gestual. Já a "comunicação analógica" representa a modalidade relacional da comunicação, utilizando mais recursos não verbais e tipicamente imprecisos, tais como expressões faciais, posturas, sinais paralinguísticos (como entonação de voz), e assim por diante. Ambas acontecem simultaneamente, por meio dos múltiplos canais da expressividade humana (expressões faciais, postura, olhar, movimentos do corpo, toque, entonação de voz, ritmo da fala etc.).


É impossível, por exemplo, falar uma palavra sem qualquer entonação. E a dimensão da entonação vincula o conteúdo com o contexto relacional, determinando o sentido da mensagem.

Todos os intercâmbios comunicativos são simétricos ou complementares, respectivamente, e se baseiam na igualdade ou na diferença. Complementaridade e simetria são conceitos inspirados em formas geométricas e assinalam que a comunicação pode ser compreendida mediante conceitos vindos da geometria e suas formas. Com o tempo, optou-se por nomear essas regras a partir de conceitos mais abrangentes, e não tão relacionados às formas geométricas, pois o caráter da comunicação é, muitas vezes, mais vago do que uma forma geométrica. Assim, esses conceitos geométricos foram substituídos pelos conceitos mais genéricos de igualdade e diferença de comportamento, que também buscam mostrar que a dinâmica comportamental dos interlocutores obedece a regras básicas.

Os comportamentos dos interlocutores se desenvolvem a partir do primeiro comportamento do emissor, em sequência temporal. Segundo esse axioma, estabelece-se uma lógica na forma como se desenvolvem, seja ela complementar/igual, ou simétrica/diferente.


Por exemplo, se um dos interlocutores começa com agressividade e o outro responde com passividade, trata-se de complementaridade ou diferença. Se à mesma agressividade o outro responder também com agressividade, será um comportamento simétrico ou baseado na igualdade.